Contra-Corrente nº 75
ANÁLISE DA DINÂMICA DO EMPREGO APÓS A REFORMA TRABALHISTA
por Gustavo Machado
Ainda no mês novembro de 2018, ao se completar 1 ano da aprovação da reforma trabalhista, o presidente recém eleito Jair Bolsonaro declarou: “O Brasil é o país dos direitos, só não tem emprego”. Cerca de um ano antes, o mesmo havia dito que “o trabalhador teria que escolher: mais direitos e menos empregos ou emprego com menos direitos”. Essas declarações vão na mesma linha do que foi anunciado por Michel Temer quando da aprovação da reforma. Seu ministro do Trabalho no momento da sua aprovação chegou a declarar a meta de 2 milhões de empregos no período de 2018 e 2019.
A contraposição em si, direitos versus emprego, é, evidentemente, um disparate. Ter que escolher entre a forca e o chicote não é uma alternativa razoável para um mundo que vê a produtividade do trabalho e o avanço tecnológico cavalgar a cada ano. Não deveria o desenvolvimento tecnológico permitir ao conjunto dos indivíduos uma jornada de trabalho menor e maior acesso aos bens de consumo? Deveria. Mas a lógica do capitalismo e do livre mercado, que Bolsonaro tanto aclama, não é esta. Em um sistema completamente irracional, o desenvolvimento na produção de riquezas, na tecnologia, na produtividade longe de produzir fartura e abundância, ao contrario, produz mais miséria e degradação para os trabalhadores. Para os defensores dessa lógica restam duas alternativas aos trabalhadores: a forca ou o chicote, o desemprego ou a retirada de direitos e, com eles, qualquer garantia e segurança para os trabalhadores na relação desigual com a patronal.
Mas não é somente isso. No Boletim Panorama Econômico do ILAESE, já assinalávamos que “apesar do crescimento do PIB no período recente, não se verifica a ampliação no investimentos nas respectivas estruturas produtivas. Principalmente nos setores chave da economia brasileira, seu polo dinâmico. Esse cenário aponta, até o momento, para um crescimento pouco consistente e de vida curta”. Em outras palavras, mesmo a contraposição emprego e direitos é absolutamente falsa. A retirada de direitos não garante em absoluto a ampliação de empregos se não tivermos concomitantemente um avanço na estrutura produtiva do país, que tem como coração principal a indústria de transformação.
Pois bem, nesse cenário, veremos no curso desse Boletim até que ponto as metas e promessas do atual governo se realizaram.
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